sábado, 15 de março de 2014

Marlboro Lights

"I saw my future in your eyes
Save the words you've rehearsed
We both know I won't be fine
You know the fate don't take my bribes
And I only want what's never mine
So you break the door, you break my heart
You ruined me again" 

"Porque é que estás sempre triste à noite?" - perguntou-me ela. Partilhámos um dia como já não fazíamos há muito, não entendias porque estava assim. Acredito que às vezes seja difícil ser Mãe.

Acordei feliz, ainda entusiasmado pela madrugada anterior: Finalmente acontecera, conseguiu ser ainda melhor do que aquilo com que sonhara. O carinho com que senti os teus finos e suaves lábios tocarem os meus, a gentileza e a timidez com que a tua língua se aproximou da minha. Apetecia-me viver aquele momento para sempre. Na minha cabeça não existia nada mais romântico que a pessoa que amamos, beijar-nos e fazer-nos sentir como se fossemos o mais importante do Mundo.
Na verdade, eu sabia há muito, que não era de forma nenhuma o mais importante, o mais especial ou aquele por quem mais afeição nutrias.
Naquela história, eu era o outro. O teu beijo conseguiu fazê-lo apagar da minha mente. Naquele momento era eu o protagonista da história, era eu aquele quem tu querias e não existia ninguém que nos fosse separar. Era por isso que queria fazer aquele momento durar para sempre. Não queria encarar a realidade de que aquele momento era demasiado finito e frágil; de que minutos depois voltaria a ser a segunda escolha.
Acho que é isto que significa amar alguém. Ter um momento de felicidade pura que nos transporta para uma outra vida que não a nossa: deixamos de ser uma história triste, um choro que ninguém escuta a meio da noite.
Conseguiste destruir o sorriso que me tinhas dado na noite anterior e que me alentou o dia inteiro. Fizeste-me voltar à realidade, desta vez acompanhado de uma notícia que vem até ti de avião: aquele que é na verdade o protagonista desta história, não só quando o beijas, irá regressar em breve. Aquele que realmente amas.
Estavas tão feliz. Como poderia ter dito alguma coisa?
Calei-me.
Fui para o meu quarto passar outra noite acompanhado das lágrimas que de forma consciente provoquei a mim mesmo. Pois no fundo, sabia desde início que esta era uma batalha perdida.

Não sei se te amo demasiado, se me amo demasiado pouco.

"Está tudo bem Mãe, estou só cansado. Deixa-me em paz."


"And I'll stay here
To defy our fears
Even though I know it'll end in tears
'Cause I, I know that we could be better
When I'm alone on the longest nights
I think of you and your Marlboro lights"



domingo, 9 de março de 2014

Say Something

"Quando se ama alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa. E se ela não vem ter connosco, nós esperamos. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar. O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível. É mais fácil esperar do que desistir. É mais fácil desejar do que esquecer. É mais fácil sonhar do que perder. E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver."  - Margarida Rebelo Pinto


Passaram quase quatro anos desde que comecei este espaço. A razão que me levou a fazê-lo, foi basicamente uma: Tu.
Durante este tempo a minha vida mudou. Vários comboios chegaram, vários partiram. Mas a verdade é que me mantive igualmente imóvel naquela estação, à espera do dia em que tu voltasses.
Fizeste-me sentir vivo, foste o melhor de mim durante a pior jornada da minha vida. Deste-me a luz que não encontrava em qualquer outro lugar, deste-me a conhecer o melhor de mim, ofereceste-me o amor de que me alimentei enquanto sonhava com um dia que sabia que nunca iria chegar.
Há muito que não voltava a sentir vida como a senti, com a sensação anunciada da chegada de algo maior que eu. Algo que já não sentia desde a tua partida. A tua partida deixara de ser o lugar escuro onde me refugiava, passou a ser uma recordação feliz. Porque nesta estação, a máquina do comboio estava novamente a funcionar, pela primeira vez desde que te foste.
Senti as cores, o entusiasmo, a alegria. Senti tudo de novo.
Momentos que me pareceram ser infinitos, hoje sei que na sua delicada fragilidade, essa sensação não foi nada mais que um sonho, um desejo.
Desta vez soube de imediato o que acontecera: O desconforto das lágrimas perdidas entre as paredes daquela estação novamente escura, deixou-o demasiado claro.


Porque há comboios que nunca chegam ao seu destino.
Porque há estações que terminam vazias, sem vestígio de alguma vez ter passado por ali vivalma.